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Mais sobre o ambicioso e bem sucedido André Esteves....
- Na contra mão do mundo
Enquanto investidores de todo o planeta fogem de bancos de investimento, André Esteves resolveu gastar 2,5 bilhões de dólares para ter o seu de volta
Nos últimos meses, os bancos de investimento se tornaram párias do capitalismo mundial. Três das mais tradicionais instituições do setor simplesmente sumiram. O valor de mercado dos concorrentes despencou - feridos pela quebra de Lehman Brothers, Bear Stearns e Merrill Lynch, investidores do mundo inteiro venderam suas ações. A crise foi tão feia que, a rigor, os bancos de investimento deixaram de existir como instituições independentes. Até mesmo o celebrado Goldman Sachs teve de aceitar um dinheirinho do governo americano para sobreviver. Enquanto o mundo todo foge, um brasileiro de 40 anos decidiu apostar todo o dinheiro que tem - e o que não tem - na compra de um banco de investimento. No dia 20 de abril, André Esteves anunciou que estava recomprando o Pactual, apenas três anos após vendê-lo ao suíço UBS. A aquisição custará 2,5 bilhões de dólares à BTG, firma de investimentos fundada por Esteves após sua saída do UBS Pactual, no ano passado. Cerca de 600 milhões de dólares serão pagos em dinheiro. Esteves assumirá ainda uma dívida de 1,9 bilhão de dólares com seus ex-sócios, referente ao término do pagamento da venda do Pactual. "Em vez de pegar o meu dinheiro e ir para a praia, estou trabalhando para construir uma história", diz Esteves. "É uma aposta no Brasil."
Esteves fará uma fusão da estrutura do UBS Pactual com a da BTG. O resultado será o BTG Pactual, banco de investimento com 14 bilhões de reais em ativos, 800 funcionários e lucro de 838 milhões de reais. A transação é reflexo de um fenômeno que deve ser visto com frequência a partir de agora. Machucados pela crise, os grandes bancos de investimento do mundo tendem a reduzir sua estrutura, especialmente seu alcance geográfico. Além disso, a interferência governamental no dia-a-dia desses bancos pode mudar suas políticas de remuneração - para ficar em um exemplo das mudanças que estariam por vir. "Os bancos estrangeiros vão se tornar menos atraentes para os maiores talentos", diz o presidente da um banco europeu. "Já há uma debandada em Wall Street para butiques que ficaram longe da alçada da Casa Branca. E, fora dos Estados Unidos, essa é uma oportunidade e tanto para os bancos locais, que poderão remunerar agressivamente." Atuando à margem do olho do furacão, instituições como o BTG Pactual esperam se aproveitar da retração dos bancões globais. "Vai ter encolhimento, vai ter baixo-astral e vai ter muito controle da matriz", diz Esteves. "Esses bancos vão levar um século para aprovar uma operação, e a gente vai decidir na hora."
Desassociar-se de uma enorme instituição financeira, como o UBS, é um movimento que também traz reveses. Em razão da separação, a agência de classificação de risco Fitch colocou em perspectiva negativa o rating das dívidas do UBS Pactual. A Fitch informou que, sem o suporte financeiro dos suíços, o novo rating vai "refletir os desafios da consolidação desta franquia com uma capacidade de distribuição menor, num ambiente mais desafiador, embora apoiada por profissionais experientes e bons controles de risco". Sem o UBS, o Pactual perderá também a capacidade de assessorar grandes clientes internacionais e brasileiros em operações como fusões e aquisições. Em 2006, o banco participou do consórcio que financiou a compra da mineradora canadense Inco pela brasileira Vale. O empréstimo foi de 4,5 bilhões de dólares e a transação gerou mais de 100 milhões de dólares em receitas para o UBS Pactual. Um negócio como esse jamais será feito por um banco local. "Eles mesmos diziam que a fusão com o UBS havia representado uma conta em que 2 mais 2 somavam 5", diz o presidente de um banco estrangeiro. "Agora estão tentando convencer a todos de que o resultado da subtração do UBS vai ser 6."
Esteves se mostra exultante com o preço pago para ter o banco de volta. "Foi excepcional do ponto de vista financeiro", afirma. De fato, uma comparação com o valor pago pelo UBS na compra do Pactual dá razão a ele. Os suíços desembolsaram o equivalente a nove vezes o valor contábil do Pactual na época. Agora, Esteves gastou o equivalente ao valor contábil multiplicado por 1,3. Vale lembrar, porém, que o momento é ruim para bancos de investimento - em qualquer país do mundo. Quando o UBS comprou o Pactual, o Brasil entrava num momento mágico para os bancos. A onda de aberturas de capital realizou o milagre da multiplicação das comissões (veja quadro abaixo). Por isso, 2007 foi o melhor ano da história dos bancos de investimento brasileiros e, claro, do Pactual. Nos anos que se seguiram à aquisição, o UBS ganhou muito mais dinheiro no Brasil do que jamais sonhara - e reinou entre os ex-sócios do Pactual a sensação de que o banco havia, na verdade, sido vendido barato. Hoje, a situação é diferente. As receitas estão em queda absoluta, e não se espera para os próximos anos uma melhora significativa.
Segundo executivos próximos a Esteves, a recompra do Pactual teve, também, um forte componente defensivo. Esteves e seus ex-sócios do Pactual têm mais de 2 bilhões de dólares a receber pela venda do banco para o UBS. Nos últimos meses, como se sabe, o valor dos ativos despencou no mundo inteiro, e o banco suíço acumulou perdas totais de 22 bilhões de dólares desde o início da crise. Do ponto de vista dos ex-sócios, o risco de uma proposta de renegociação desse crédito aumentava a cada prejuízo dos suíços. Essa foi uma das razões que explicaram a volta de Gilberto Sayão - controlador do Pactual ao lado de Esteves - ao comando do UBS Pactual, em dezembro do ano passado. "O Sayão queria proteger esse crédito", diz um executivo do banco. "Todos tinham a perder com um eventual calote do UBS, mas o Esteves e o Sayão, claro, perderiam muito mais." Estima-se que cada um tenha cerca de 400 milhões de dólares a receber dos suíços.
Enquanto isso, na Suíça, crescia a pressão para que o UBS vendesse sua operação brasileira para cobrir um pedaço de suas perdas com a crise. Em abril, o presidente do banco, Oswald Grübel, decidiu que era hora de sair do país. "Eles viram que o negócio iria valer pouco em dois anos, quando os sócios do Pactual fossem embora. Era melhor vender logo", diz um ex-sócio do Pactual. Como os suíços queriam fazer um negócio rápido e sem vazamentos para a imprensa, havia apenas uma solução viável: vender o banco a alguém que já o conhecesse de cabo a rabo - Esteves ou Sayão, ou ambos. Sayão, porém, havia deixado claro que queria liberdade para investir seu dinheiro, sem deixá-lo empatado no banco. Esteves, pelo contrário, não escondia o desejo de voltar. Nas palavras de um ex-sócio de Esteves, a negociação uniu "a fome com a vontade de comer". Esteves garantiu seu crédito e voltou a ser banqueiro - e o UBS melhorou sua destroçada estrutura de capital.
Curiosamente, a fase que começa agora é a batalha dos ex-sócios de Esteves por seus créditos. Por contrato, os ex-sócios do Pactual estão presos ao UBS até 2011 - para isso, receberão 1,6 bilhão de dólares em pagamentos pelo banco e outros 500 milhões em bônus pela permanência. A compra pela BTG não muda em nada esse acordo. Esteves, porém, entra como garantidor dos pagamentos a ser feitos pelo UBS. Após a aquisição, ele vem tentando convencer os ex-sócios a migrar para um novo contrato, agora com o BTG Pactual. Pelos moldes do acordo proposto por Esteves, quem quiser sair do banco hoje pode receber o dinheiro devido de maneira antecipada - 60% da dívida seria paga à vista, com um desconto de cerca de 20%. O resto viria em quatro parcelas semestrais. Alguns dos ex-sócios já avisaram que não aceitam esses termos para aderir ao novo contrato. Finalmente, segundo a proposta de Esteves, quem pretende continuar no banco poderá transformar seu dinheiro a receber em ações do BTG Pactual. Os novos sócios terão de 0,1% a 6% do capital do novo banco. Esteves deve ter, pelo menos, 30%. "Um terço dos sócios remanescentes acabará saindo", diz ele. Segundo Luiz Cezar Fernandes, fundador do Pactual, motivar os ex-sócios do Pactual será o maior desafio de Esteves. "Ninguém imaginava que voltaria a ser sócio de banco", diz. "Eles estavam sonhando com o dinheiro que receberiam em 2011 e em comprar uma casa na Riviera Francesa."
Convencer o maior número possível de ex-sócios a ficar e trocar seu dinheiro por ações é uma estratégia essencial para baixar os custos da compra. Os primeiros dias da relação de Esteves com os ex-sócios, no entanto, não foram dos mais amistosos. Há dois principais pontos de atrito. O primeiro diz respeito ao pagamento da taxa de retenção dos sócios que ficaram no banco. Segundo EXAME apurou, o contrato de venda para o UBS estipula que, em caso de troca de controle, os 500 milhões de dólares relativos aos bônus de permanência devem ser pagos à vista aos sócios que ficaram até o momento da venda. Não é o que Esteves pretende fazer. Num primeiro momento, Esteves informou que ficaria com os 130 milhões de dólares relativos à fatia dos sócios que foram para a BTG (dinheiro de que eles tinham aberto mão quando deixaram o banco). Agora, fala-se na BTG que o plano é dividir os 500 milhões entre os sócios que deixam o banco, os que ficam e os novos sócios do BTG Pactual - algo que, na visão dos antigos sócios do Pactual, é uma clara violação do contrato.
O outro ponto de atrito envolve a venda dos assentos do Pactual na Bolsa de Mercadorias e Futuros. Num acordo feito entre os executivos do UBS Pactual e os suíços em 2007, o dinheiro da venda dos assentos seria transformado num bônus a ser pago em 2011 aos executivos que permanecessem na instituição. O montante soma 100 milhões de dólares. Esteves mandou avisar que, como esse acordo não foi formalizado em contrato e o UBS não o reconhece mais, não pagará. O dinheiro, assim, permaneceria no caixa do BTG Pactual. Entre os ex-sócios, há quem cogite levar os dois problemas à Justiça - dificilmente o lugar em que Esteves pensava em começar a discutir o futuro do mais novo banco de investimento do mundo.
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